sábado, 31 de outubro de 2009

M169 - Aminha poesia em África - Mistifório guinéu



M i s t i f ó r i o G u i n é u 

Nas longínquas terras da Guiné 
Uma das coisas que mais me intrigava 
Er'a estranha mescla populacional 
E como esta em paz coabitava

Entre as trinta etnias naturais 
Viviam cabo-verdianos e libaneses 
Velhos e respeitáveis colonos 
Sírios e uns tantos senegaleses 

Movendo-se todos na maior das calmas 
Cambiando... comerciando... traficando 
Numa amálgama de expedientes 
Havia por ali de tudo... nada faltando

Ainda hoje sinto ecos de saudade 
Dos artistas apregoando o artesanato 
"- Manga de ronco... cem pesos! Compra um?"  
Dum "shandy"... do "Ronda"... dum boato

E dos amigos e conhecidos qu'ali deixei 
Quase todos personagens enigmáticas 
O Marinho... a Maria sua mulher... 
“Almas” aventureiras... esquemáticas 

Vultos misteriosos... lendas vivas 
Sobrevivendo naquele agreste meio 
Punham-me ao rubro a curiosidade...
Como viviam, ali… sem qualquer receio? 

No Cumeré num dia rotineiro 
Emergiu das profundezas do mato 
Um viajante de aspecto andrajoso 
Cujo olhar vidrado o tornava caricato

Tez rugosa... curtida por “mil” sois... 
Alguém disse: - É o Figueiredo 
“O cigano”! Um ex-soldado português degredado 
Qu’errava por ali há muito ano 

Temido e desprezado pelos “velhinhos” 
Constava que matara a tiro de G-3 
Um superior qu’um dia o punira 
Por qualquer coisa qu’ele um dia fez

Tal como surgiu... assim se esfumou 
Adensando a mística da sua existência 
Pediu algumas moedas e um pouco de pão 
E sumiu pelo mato fora... na sua penitência

Assim se formava a mística africana 
Dos insondáveis e invisíveis laços 
Que prendem e apaixonam o viajante 
À sua beleza e aos seus suaves traços

 

Legenda:

“Manga de ronco” – signifacava muito artesanato (no dialecto dos crioulos locais).
“Shandy” - era uma bebida refrescante vendida em Bisau, em latas de 0,33 l.
“Ronda” - era um conceituado e frequentado café situado junto ao porto de Pidjiguiti, em Bissau.
“Marinho” - era o encarregado do sector de construção civil do Batalhão de Engenharia, em Brá. 

1 comentário:

José Marques Ferreira disse...

Caro MR
Era só p'ra dizer que não conhecia este cantinho. E muito bom!
Prometo colocá-lo nos blogues que acompanho, a que chamei os meus companheiros de jornada.
Um abraço,
JM Ferreira