domingo, 18 de março de 2012

M418 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar (2)


38ª Companhia de Comandos 

Uma lenda da Guerra do Ultramar 

Guiné – 1972/74 


A vida de um comando na Guerra do Ultramar (2)

Continuação da mensagem M417, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Mendes, que foi 1º Cabo Comando da 38ª CCmds (Os Leopardos) (Guiné, Brá, 1972/74).

Começo esta mensagem pelo envio de 6 fotos, sendo as 3 primeiras elucidativas de um dia de Natal "comemorado" na mata de Cubiana-Churo. 


Dia de Natal: 25 de Dezembro de 1972. Na foto de cima, no Rio Cacheu, a caminho de uma operação, em LDM... Assim se passava mais um dia de Natal na Guiné
Em operações na mata da Cubiana-Churo, na região do Cacheu
Em primeiro plano, o comandante da nossa companhia, o então capitão Pinto Ferreira. Em segundo plano, eu próprio.
Na foto de cima, o Gr de Combate do 1º Cabo Mendes, o 3º a contar da direita, com boina. 
Progressão da coluna auto na picada de Guidaje... 
Uma vista da bolanha do Cufeu, com destroços de viaturas...

De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte) 

A CAMINHO DE GUIDAJE 

Resumo: 

9 de Maio de 1973 
O 2º e o 4º grupos [da 38ª Cmds] vão hoje fazer uma escolta a uma coluna de Mansoa para Farim

13 de Maio de 1973 
Regressei hoje a Mansoa. Cinco dias fora. Meu Deus, foram os piores dias da minha vida. Irei tentar descrever tudo o que passei. Os horrores da guerra! Nunca pensei que fosse possível acontecer o que vi. Terrível de mais para ser verdade. 

9 de Maio de 1973 
Saímos de Mansoa com destino a Farim, com uma coluna que leva abastecimentos para a fronteira. Íamos só com a missão de chegar a Farim e voltar. Passámos a noite em Farim, mas fala-se já que não iremos voltar. A coluna que viemos acompanhar, destina-se a Guidaje

Guidaje, onde nenhuma coluna consegue chegar. Fala-se aqui que da última coluna que tentou passar: ficaram pelo caminho mais de 20 mortos. Guidaje onde a situação é caótica, onde a aviação já não dá cobertura. 

Em Farim assisti à chegada do que restou da última coluna que tentou passar. Vi militares chegarem a pé, sozinhos, completamente aterrados com o que passaram. 

10 de Maio de 1973 
Continuamos em Farim e com a chegada da noite ficamos a saber que somos nós quem vai seguir com a coluna para Guidaje. 

11 de Maio de 1973 
Saímos de madrugada de Farim com destino a Guidaje. Primeiro a Binta onde os picadores se irão juntar aos nossos grupos. Daí entramos na maldita da picada. Os picadores seguem na frente. 

Nota-se na picada o efeito das minas, autênticas crateras. Serão 16 km de picada até Guidaje. Um pelotão de Binta irá connosco até meio do percurso, depois iremos sós. Na frente os picadores lá vão detectando e rebentando minas, a cada hora apenas andamos para aí 2km. Sabemos que de Guidaje saiu a CCAÇ 19, africana, para vir ao nosso encontro. 

Ao passar na bolanha do Cufeu é impossível descrever o que encontramos sem sentir um aperto na alma: dezenas de viaturas trucidadas pelas minas. Os cadáveres pelo chão são festim para os abutres. É uma loucura. Pedaços das viaturas projectadas a dezenas de metros pela acção das minas. Estrada cheia de abatizes. Tentamos não olhar. Nunca vi tanto morto, nossos e do IN, deixados para trás ao longo da picada. 

A coluna, à saída da bolanha do Cufeu, pára. Ouve-se ao longe tiros e rebentamentos. A companhia que vinha ao nosso encontro, caiu numa emboscada na ponte. Pelo rádio ouvimos o oficial que comanda a companhia emboscada pedir apoio aéreo, porque o IN é em muito maior número e ele diz que está a ser dizimado. Chegam dois Fiats e tentam dar cobertura à companhia emboscada mas dizem que é impossível porque o IN está demasiado próximo. 

(continua)

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes.
Amílcar Mendes
1º Cabo Comando da 38ª CCmds 

Texto e fotos: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados. 

Fotos alojadas no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.

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mensagem em 16 de Março de 2012:

M417 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar 


2 comentários:

antonio barbosa disse...

HONRA E GLORIA AOS NOSSOS HEROIS

Tive o previlegio de privar com a 38ª ompanhia de Comamdos, pois embora só tenha chegado á Guine em
Julho de 73 (pira), tinha nesta companhia um conterraneo e amigo do peito o saudoso Fur. Mil. Comando JOAQUIM JOSE G. DE AGUIAR, a AK 47 que me acompanhou durantre grande parte da minha comissão foi capturada pela 38ª, se a memória não me falha em 1974 estiveram sediados em NOVA LAMEGO quando a situação se agravou em PIRADA e CANQUELIFA, foram sem duvida alguma das melhores Companhias Operacionais que o Territorio da Guine conheceu, nunca é de mais enaltecer os feitos em defesa da PATRIA.
E já agora somente por curiosidade o meu filho casou com a filha do soldado Comando CARLOS CARDOSO que tambem foi membro da 38ª

Um Grande abraço
RANGER Antonio Barbosa GUINE 73/74

João Carlos Abreu dos Santos disse...

...
Um abraço para o Eduardo.
E um outro abraço para o Amílcar.