quinta-feira, 19 de abril de 2012

M436 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Gampará (Ago a Dez 1972) Passa-se fome, muita fome (2ª Parte) (13)



Esta é a 13ª mensagem, continuação das mensagens M417, 418, M422, M423, M424, M425, M426, M427, M429, M432 e M434, onde se iniciou a publicação de algumas das memórias de guerra de Amílcar Felício Pereira Mendes, que oi 1º Cabo na 38ª Companhia de Comandos. Esta Unidade, foi uma das mais sacrificadas na Guerra do Ultramar, que como todos sabem teve três frentes: Angola, Moçambique e Guiné. 


Esta Unidade de elite do Exército Poruguês, além da intensa actividade, quer nos estafantes lodos das bolanhas, quer nas insondáveis matas e nos tufos do traiçoeiro tarrafo,  sofeu várias baixas em combate de que resultaram 13 mortes.

Recordemos, 13 mortes de jovens na flor da idade com 21/22 anos, de rara estirpe, valentes como poucos e extremamente voluntariosos, da melhor massa humana que Portugal sempre produziu. 


Agradecemos mais uma vez, ao Amílcar a coragem deste seu objectivo e cruel testemunho, que ele fez questão de narrar e deixar às gerações vindouras, para Homenagear os seus "irmãos" falecidos em combate, para memória futura da História de Portugal e para que não prevaleça sobre a verdade dos factos e dos reais acontecimentos no terreno, as filosofias viperinas e as venenosas e fedorentas manipulações dos vários cobardes e traidores que grassam em Portugal, deturpando e distorcendo as verdades dos factos para fins obscuros (por ideologia partidária, por ressabiamentos diversos, por simples cobardia, por feitio maligno e ou traiçoeiro, etc.)

Se os nossos incompetentes, irresponsáveis, incapazes e infelizes políticos não sabem e, ou, não querem, pelos mais diversos motivos (que inclui o desprezo pela Pátria, pelos seus valores e ideais e, para cúmulo de gozo, alguns até usam a bandeira nacional na lapela), homenagear os nossos Heróis Nacionais, façamo-lo nós usando este maravilhoso meio de informação e divulgação para o fazer.

Sem exacerbamentos nem fanatismos, pois é nossa obrigação, pelo respeito que merecem os Combatentes portugueses falecidos em combate, pelos que entretanto já faleceram de doenças e outros males, por aqueles que ainda hoje padecem de stress pós-traumático de guerra e pelos que ainda vivos merecem ser estimados pelos demais cidadãos. 

VIVA PORTUGAL!


Continuamos a recordamos que estas mensagens do Amílcar também podem ser vistas no blogue dedicado exclusivamente, directa ou colateralmente, à frente de guerra da Guiné: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/



38ª Companhia de Comandos 



Uma lenda da Guerra do Ultramar 
Guiné – 1972/74 



Continuação da mensagem M434. o Diário de um Comando: Gampará (Agosto a Dezembro de 1972) > 1ª Parte 

2ª Quinzena de Agosto de 1972 

Passa-se fome, mesmo muita fome. Saímos em patrulhamentos ofensivos dia sim, dia não, para as regiões de Campana, Nhala, Guebambol, Ganjaurá, Sama, Gambachicha, etc. etc. 

Dormimos em colchões pneumáticos mas já há muito que não tenho esse luxo porque as formigas roeram-me o colchão por baixo e estou a dormir no chão. A luz vem de candeeiros improvisados: uma garrafa de cerveja com gasóleo e com corda a servir de pavio. 

Come-se muito mal, a não ser algum cabrito roubado ou alguns papagaios que se matam e o resto é bianda com marmelada, bianda com chouriço, bolachas com bianda e assim se vai vivendo. Perdi cerca de 10 kg até agora. 

Tivemos problemas sérios com a população. O 1º cabo Simão (que meses mais tarde viria a morrer na estrada Teixeira Pinto -Cacheu) roubou um porco que se matou e assou no forno do padeiro para melhorar um pouco a dieta do pessoal. Só que, e sabe-se lá como, o Homem Grande da tabanca descobriu e foi-se queixar ao comandante. Fomos obrigados a pagar o porco e de castigo fomos p'rá mata. 

10 de Setembro de 1972 

Os cabos da Companhia reuniram-se hoje todos e fomos falar com o comandante Capitão Pinto Ferreira. As condições de alimentação e dormida são péssimas e a intensa actividade operacional está a levar-nos a zero. 

26 de Setembro de 1972 

Hoje faço anos. Como prenda sai para o mato e à noite quando cheguei tinha muitas cartas e uma encomenda com alguns petiscos que desapareceram todos num instante. 

13 de Setembro de 1972 

Saímos hoje para uma operação helitransportada e vou anexar os relatórios (Acção Águia Errante): 


38ª CCmds - História da Unidade > Cap II, página 9 > Registo da actividade da actividade operacional, em 12, 13, 16 e 18 do mês de Setembro de 1972, com destaque para o dia 13: Acção Águia Errante 

Missão: (i) Acção de patrulhamento, emboscada e golpes de mão imediatos na região de Lagoa de Bionrá; (ii) Destruir instalações e meios de vida, criando um clima de instabilidade; (iii) Cpaturar ou aniquilar os elementos IN que se revelem e recuperar as populações. 

Força Executante: 3 Gr Comb actuando isoladamente. 

Planos estabelecidos para acção: 

(i) Helitransportados os 3 Gr Comb, colocando-se na parte Norte de Lagoa de Bionrá, em locais diferentes, sendo recuperados de helicóptero a Norte de Farená Beafada; (ii) Apoio de DCON (DO 27 armado), em alerta no solo de Bissau e helicanhão, assim como helicópteriod e evacuações, em alerta no solo de Gampará; (iii) Apoio do Pel Art sediado em Gampará. 

Duração da acção: 12 horas 

Resultados obtidos: 

Pelo IN, 2 mortos e vários feridos, visto terem, sido deixados vários rastos de sangue; (ii) Feita a captura do seguinte material: 1 Met Lig Degtyarev; 1 Esp Semi-Aut Simonov; 1 Tambor de Met Lig Degtyarev com munições. 

(Continua) 


Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª Companhia de Comandos > 1972 > O Comando Amílcar Mendes. 
 Guiné > Bissau > Brá > 38 CCmds > "Dia 14 de Agosto de 1972, na véspera de partir para Gampará, recebi o Crachá no quartel dos Comandos em Brá" (AM). 


Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > 38ª CCmds > "Estou atrás, à esquerda. Em segundo plano com o braço metido na ligadura o 1º cabo Cmd Simão que um ano mais tarde viria a morrer na ponte do Bachile" (AM). 


Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38 ª CCmds > 1972 > "Como vês, alojamentos de primeira classe. A ventoinha que aparece na imagem, nunca trabalhou em Gampará" (AM). 


Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª CCmds > 1972 > Gampará > "Eu, à direita, a almoçar na tabanca do padeiro. À esquerda o Sold Cmd Balsinha, de Borba, e ao meio o padeiro. Dias mais tarde num ataque a padaria foi c'os porcos " (AM).

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª CCmds > 1972 > "Começa a notar-se os efeitos de uma boa alimentação..." (AM). 


Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará), "assinalando a passagem da minha Companhia" por Gampará (AM). Vê-se que por ali também passaram, ao servlço do COP (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o Pel Art 29 e o Pel Mil 331. 

Um grande abraço para todos os ex-Combatentes. 
Amílcar Mendes 
1º Cabo Comando da 38ª CCmds 

Fotos, legendas e texto: © Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados. 
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Do mesmo autor veja também as mensagens: 

1ª mensagem em 16 de Março de 2012 

2ª Mensagem em 18 de Março de 2012 > 

3ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

4ª Mensagem em 25 de Março de 2012 > 

5ª Mensagem em 30 de Março de 2012 > 

6ª Mensagem em 31 de Março de 2012 > 

7ª Mensagem em 3 de Abril de 2012 > 

8ª Mensagem em 5 de Abril de 2012 > 
M427 – 38ª Companhia de Comandos – Uma lenda da Guerra do Ultramar: Soldado Comando Raimundo, natural da Azambuja, morto em Guidaje: Presente! (8)

9ª Mensagem em 8 de Abril de 2012 > 

10ª Mensagem em 12 de Abril de 2012 > 

11ª Mensagem em 15 de Abril de 2012 > 

12ª Mensagem em 17 de Abril de 2012 > 

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